O artigo sob o título: "A insuficiência da escola primária", é do seguinte teor:
As escolas de instrução primária não se encontram bem distribuídas, como infelizmente notamos a cada passo. A grande massa de analfabetos existente no país é devida, em parte, não só à falta de escolas, mas também à sua irregular distribuição. Tomemos por exemplo, o que sucede nas freguesias aqui vizinhas da Cumieira e de Chão de Couce. Não falo do Avelar, apesar das escolas se encontrarem todas localisadas na séde da freguesia, porque as crianças, mesmo as mais afastadas, não distam delas mais de quilómetro e meio. Já o mesmo não acontece nas duas freguesias de que acima falei. Na Cumieira nota-se a falta de escolas. Apenas se encontra uma para toda a freguesia. Ora há lá povoações, situadas a quilómetros umas das outras que, pelo n.º de habitantes, tinham direito a possuir uma escola, e que apenas são servidas pela única que funciona na freguesia.
Como pode essa escola cumprir o seu dever, desde que a maior parte da mocidade escolar daquelas regiões não a pode frequentar e, ainda, em virtude do n.º daqueles que a frequentam ser tão elevado, que o professor, seja ele qual fôr, não pode dar conta do seu recado convenientemente?
Chão de Couce, freguesia muito populosa e bastante extensa, tem cinco escolas, mas todas juntas, prejudicando, assim, os povos que vivem nos pontos mais distantes delas.
Essas escolas, embora relativamente ao n.º de habitantes não sejam suficientes, podiam, se estivessem bem distribuídas, prestar um auxílio muito maior. As pessoas mais distantes veemse na impossibilidade, embora isso pese bastante à maior parte delas, de não mandarem os seus filhos à escola. Poderá, por exemplo uma criança de sete a oito anos, habitando a alguns quilómetros da escola, com péssimos caminhos, frequentá-las, principalmente no inverno? É evidente que não. E, no caso de mesmo com estas dificuldades todas, a frequentar, estas longas caminhadas, principalmente, na época das chuvas não prejudicarão a sua saúde?
E não é verdade que hoje, mais do que nunca, talvez, se procura, concomitantemente, o desenvolvimento físico e intelectual, isto é: mens sana corpore sano, como ouvimos, constantemente? Este célebre aforismo espartano explica-nos claramente o fim que tem em vista toda a pedagogia moderna. Continuando a distribuição das escolas conforme está, uma grande parte dos alunos não pode utilizar-se delas, porque, para isso, precisava mudar de residência para a sua proximidade, o que acarretaria, para a sua família, despesas, com que ela não podia. Nestas condições, essas crianças não podem frequentar as escolas e, portanto, qual o resultado? Ficarem quási todas analfabetas. Ora, é manifesto, que o saber lêr é hoje uma das coisas mais necessárias a todas as pessoas. Se as escolas que funcionam na vila de Chão de Couce, para servirem toda a freguesia, em vez de continuarem conforme estão, fôssem bem distribuídas por toda ela, prestariam muito melhores serviços. A freguesia da Cumieira, também, precisa de mais escolas: pelo menos de mais duas.
Em qualquer das freguesias de que temos falado, só com modificações que apontei, o mal não ficaria completamente remediado, mas seria bastante atenuado.
Avelar, 26 de Agosto de 1929 / Manuel Fernandes Medeiros.